quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Encontro de Mestres


Já estava marcado, um novo batizado de Capoeira. Todos do grupo se encontrariam em um grande evento em São Paulo e muitos amigos viriam de outras cidades. Os grandes mestres estariam também reunidos para avaliar todos os alunos onde seriam feitas as graduações. Aluno somente troca de cordão, sendo derrubado por mestres.
Um salão enorme estava enfeitado com flores e todos os instrumentos já estavam devidamente arrumados e os capoeiras prontos para tocar, aguardando a chegada do grande mestre. Todos os demais alunos ficariam do lado de fora do salão e numa fila enorme os capoeiristas arrumavam os seus abadás, a sua roupa branca com o símbolo da escola, um lenço branco, sendo que as crianças entrariam primeiro.
Começam os atabaques a serem tocados. Os mestres convidados já estavam aguardando sob o comando do grande mestre. Uma voz forte ecoa por todo o salão:
_ Iêêê!! Axé para todos os capoeiras!
_ Iêêê!! Axé para todos os mestres!
As crianças começam a entrar e todos se posicionavam em filas devidamente arrumadas de fronte aos mestres, os atabaques.
O grande mestre levanta a sua mão e os atabaques silenciaram.
_ Salve capoeira! Salve capoeira Angola! Salve a capoeira Regional!
_ Salve Mestre Bimba e salve mestre Pastinha!
Neste instante todos os lenços brancos dos capoeiras estavam sendo levantados em sinal de respeito, em reverência à paz, justiça, na luta por grandes mestres pela sua arte, sua cultura, afro-brasileira e um canto lindo da capoeira começa a ser entoado.
A roda em seguida estava pronta. De um lado alguns alunos e do outro os mestres. Os nomes seriam chamados e um a um confrontando com seus mestres. Eu não queria cair rápido, queria resistir e ganhar o meu primeiro cordão com raça e ginga e certamente eu não teria medo daquele mestre.
O meu nome foi chamado. Aos pés do berimbau e do atabaque, cumprimentei o mestre e o jogo iniciou, olho no olho e como era regional eu deveria atacar de forma precisa, mas sem encostar nele. O martelo voador deveria passar próximo da sua cabeça e voltando num movimento rápido, uma rasteira, uma chapa pulada, uma benção, uma queixada, movimentos feitos entre paradas de mão, armada, pião de mão e uma tesoura? _ Não!! Eu não ousaria dar uma tesoura no mestre, movimento que com as minhas pernas eu o derrubo ao chão. _ Não!! Ele sim me derrubaria mas como? E continuei gingando e no ataque e na defesa e entre a negativa e o gancho e com uma chibata, eu estava no chão. O mestre estendeu a sua mão ,levantando-me e assim ganhei a minha primeira graduação e todos que estavam ali presentes estariam certamente enfrentando com coragem seus mestres e mostrando a lição aprendida durante todos os dias de ginga e canto e harmonia em suas escolas. Depois vieram outras graduações, outros confrontos.
As cores eram diversas dos cordões que estavam sendo amarrados na cintura dos capoeiristas e estes entregando para seus padrinhos uma rosa em sinal de agradecimento.

Regina Rocha

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